WOMEN IN SCIENCE, TECHNOLOGY & INNOVATION - ENTREVISTA COM Selma Aparecida Cubas

Conte um pouco sobre sua experiência profissional e sua atuação na UFPR

Selma: Sou Engenheira Civil formada pela Universidade Católica do Paraná e doutora em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. Atualmente sou Professor Adjunta em dedicação exclusiva do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e integro o grupo de docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos (PPGERHA).

Iniciei na área de Saneamento em 1991, durante o ensino médio, por meio de um curso Técnico em Saneamento, oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Paraná (SENAI). Em 1993, passei no concurso para Técnico em Saneamento para atuar na área de Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Curitiba, onde permaneci durante três anos, trabalhando em áreas de vulnerabilidade social e ambiental. Durante este período cursei a graduação de Engenharia Civil, que finalizei em dezembro de 1997.

Como engenheira civil, recém-formada, fui trabalhar na área de projetos de vias urbanas e drenagem em uma empresa privada fundada por engenheiros aposentados do setor público. Lá eu aprendi muito sobre a relação público-privado, além de ter a oportunidade de aprender com quem detinha um conhecimento além dos livros, obtido durante anos de trabalho.

Em 1999, iniciei o mestrado em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, na área de Saneamento, com o Tema Reatores Anaeróbios, financiado pela Fundação de Pesquisa e Amparo de São Paulo. Após a qualificação fui convidada a fazer o Doutorado Direto, sendo a primeira do Departamento de Hidráulica e Saneamento a ter o título de Doutorado de forma direta.

Em 2003, retornei para Curitiba e iniciei a minha carreira como professora na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e do Centro Universitário Positivo, atualmente Universidade Positivo. Dois anos depois, passei a integrar o primeiro programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo, onde desenvolvi as minhas pesquisas até 2017.

Também trabalho como voluntária na Diretoria da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) desde 2017, onde defendo a Universalização do Saneamento, acreditando que o Saneamento Básico é um direito do cidadão e um dever do Estado.

 

No decorrer de sua carreira, você se deparou com desafios que acredita terem surgido devido ao fato de ser mulher?

bol37 won01 enedinaSelma: Não, felizmente sempre fui respeitada como mulher, engenheira e professora. Mas, acho que sou exceção, até porque escolhi uma área voltada à saúde e meio ambiente, onde as mulheres fazem a diferença. Eu sempre lutei muito pelos meus ideais, não tenho medo de desafios, mas sei das dificuldades que nós mulheres enfrentamos no dia-a-dia.

Sempre me espelhei em Enedina Alves Marques (1913-1981), primeira mulher a se formar em Engenharia Civil no Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil, em 1945 pela UFPR. Ela era mulher, negra e pobre, empregada doméstica e alfabetizada aos 12 anos, que conseguiu ultrapassar todas as barreiras impostas e comprovar a sua competência. Assim, se me deparo com o desafio de provar a minha competência por ser mulher, não desanimo, pelo contrário, isto me dá força e ânimo, afinal tenho um objetivo a seguir, um caminho aberto e algo para concretizar.

 

Como você percebe a mudança e o aumento da participação das mulheres nas áreas de ciência e inovação no Brasil?

Selma: De fato está ocorrendo um aumento da participação das mulheres áreas de ciência e inovação no Brasil. Como estou na área de engenharia civil, é fácil perceber, pois já temos a participação da mulher com mais efetividade.

No próprio programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental - PPGERHA que estou inserida na UFPR, atualmente há mais mulheres do que homens, principalmente no doutorado, onde 80% dos doutorandos são mulheres.

 

Você tem incentivado a diversidade em seus projetos? Se sim, como?
 
Selma: Acho que naturalmente isto tem acontecido. Estão inseridos nos meus projetos muito mais mulheres do que homens e, com certeza, a realização delas é a minha realização como profissional e como mulher. Há uma admiração mutua.

 

Seus projetos estão alinhados aos ODS da ONU? Se sim, poderia dar um exemplo?
 
Selma: Sim. Todos os projetos que desenvolvo ou estou envolvida, procuro alinhar aos ODS.

 

Projetos em Saneamento Básico e Ambiental:

Não há como atuar no Saneamento Ambiental, sem considerar a ODS 6 (Água limpa e saneamento), da mesma forma, uma cidade e comunidade só será sustentável com a universalização do saneamento (ODS 11), bem como representará boa saúde e bem-estar (ODS 3).

Nos projetos, o foco está no desenvolvimento de estações de tratamento de esgoto (ETEs) com sustentabilidade (ETEs Sustentáveis), inserindo o conceito de Economia Circular, com aproveitamento do gás gerado como a energia acessível e limpa (ODS 7), sendo um meio de combater às alterações climáticas (ODS 13). O líquido deverá ser tratado com maior eficiência, pois tem como destino final os corpos receptores (água ou solo), ou seja, projetar sistemas que possam fornecer proteção da vida de baixo de água (ODS 14) e da vida sobre a Terra (ODS 15).

Projeto “Ciclo de vida agroalimentar do município de Curitiba e região metropolitana visando à sustentabilidade”:

O objetivo é maximizar os potenciais benefícios em curso com vista ao desenvolvimento sustentável do Ciclo Agroalimentar no Município de Curitiba e sua Região Metropolitana, com destaque aos aspectos sociais e econômicos já estabelecidos nos diferentes programas e inserir, neste contexto, as questões ambientais, os quais compõe o tripé da sustentabilidade.

Esse projeto é coordenado por mulheres e a maioria dos trabalhos de pesquisa estão sendo realizados por aulas e pesquisadoras. Ele é realizado em parceria com a Prefeitura Municipal de Curitiba, Universidade Federal do Paraná, Universidade Tecnológica Federal do Paraná; Pontifícia Universidade Católica do Paraná; Universidade Positivo, e principalmente a Royal Institute of Technology (KTH) da Suécia.

Neste projeto buscamos atender:

  • ODS 2 – Fome zero, por meio de projetos e implantação de banco de alimentos para doação;
  • ODS 3 – Alimentos de boa qualidade nutricional;
  • ODS 6 – Água limpa e saneamento
  • ODS 7 – Tratamento dos resíduos de alimentos e geração de energia limpa;
  • ODS 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura;
  • ODS 10 – Redução das desigualdades;
  • ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis;
  • ODS 12 – Consumo e proteção responsável;
  • ODS 13 – Combate às alterações climáticas;
  • ODS 17 – Parcerias em prol das metas.
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