O CISB entrevistou os três professores suecos que participam do programa Swedish Endowed Professor Chair at ITA in the Honor of Peter Wallenberg Sr. Petter Krus, da Linköping University, fala de sua experiência no Brasil como o primeiro professor a assumir a cátedra no ITA. Já Dan Henningson, do Royal Institute of Technology, e Tomas Grönstedt, da Chalmers University of Technology, relatam suas expectativas e planos de trabalho. Confira abaixo.
PETTER KRUS
Linköping University
Depois de passar meses atuando no ITA, como o senhor avaliaria sua experiência como o primeiro professor do Programa Swedish Endowed Professor Chair at ITA in the Honor of Peter Wallenberg Sr.? Quais foram os obstáculos superados?
Eu já havia passado um bom tempo no Brasil e no ITA, como ad hoc, antes de ser nomeado para a Endowed Chair. Portanto, já estava de certa forma bem estabelecido quando comecei. Acho que o maior obstáculo é a barreira da língua, apesar de muitos docentes falarem inglês, mas ainda assim alguma coisa se perde. Mas estou trabalhando nisso... Outro obstáculo é a falta de financiamento pelo lado brasileiro. Esperamos que isso melhore com o tempo.
Como o senhor avalia as evoluções do projeto de pesquisa FADEMO até o momento?
Precisamos considerar que este é o primeiro projeto que fazemos em conjunto e que não há financiamento pelo lado do Brasil. Do lado da Suécia, temos nos saído bem. Realizamos e gravamos testes de voo com aeronave GFF instrumentada em subescala. Compartilhamos dados e os dois lados estão trabalhando na análise. Também temos acordos firmados para o projeto com todas as partes, LiU, ITA, USP e Saab. Acho que este é um marco importante para a colaboração Brasil-Suécia, uma vez que se trata de um modelo para colaboração para projetos futuros.
O seu plano de trabalho dentro do Programa contempla a vinda de estudantes de doutorado ou pesquisadores, sendo que o senhor já trouxe dois estudantes até agora. Quais as atividades que eles desenvolveram?
Um dos alunos está trabalhando no projeto MSDEMO e usando seu tempo no ITA com tecnologias de voo também. O outro aluno está dando continuidade a uma colaboração com a USP de São Carlos, iniciada quando um professor de lá passou meio ano na Universidade de Linköping com uma bolsa de estudos CNPq-CISB-Saab há três anos. Este trabalho também está relacionado ao projeto MSDEMO.
Um dos objetivos do seu plano de trabalho é estar envolvido na organização de workshops e conferências para incentivar e ampliar a rede de pesquisadores e a cooperação entre Brasil e Suécia. Qual tem sido o resultado destas ações? Como o senhor espera estimular o intercâmbio de pesquisadores em ambos as direções?
Como resultado, tem havido mais colaboração entre pesquisadores na Suécia e no Brasil. O objetivo desses workshops é reunir pesquisadores e mostrar as áreas em que essa colaboração pode acontecer. Não se trata apenas de uma colaboração bilateral entre pesquisadores de ambos os países, mas de construir relações entre atores dentro do Brasil para que haja uma sólida rede de pesquisa na ampla área de Engenharia Aeronáutica no Brasil juntamente com a Suécia.
Dentro do contexto de cooperação internacional em P,D&I, como o senhor avaliaria os mecanismos de estimulo à inovação do Brasil comparado com os da Suécia? Após a sua experiência no Brasil, quais sugestões de melhoria você daria?
Esta é uma pergunta difícil, mas acho que há incentivos mais fortes na Suécia para se solicitar financiamento para pesquisa à indústria. No Brasil, é mais confortável fazer pesquisa puramente acadêmica. Na Suécia há uma forte tradição nas universidades com pesquisa aplicada em colaboração com a indústria. É algo aceito, pelo menos em grandes empresas, porque é muito importante para construir a competência adequada. Na Suécia, também há uma fração maior de engenheiros em empresas com doutorado, e os doutorados são bem-vindos na indústria. No Brasil, o doutorado é visto como algo para uma carreira acadêmica e, em geral, a pesquisa não é feita em cooperação com a indústria. Acho que é nesta área que podemos contribuir mais, fazendo com que haja colaboração entre pesquisadores brasileiros com empresas suecas que já têm essa tradição. A Saab é, com certeza, uma parceira muito importante aqui, e já tivemos vários projetos em que pesquisadores brasileiros puderam se envolver em projetos de pesquisa junto com a empresa.
Quais são as perspectivas de continuidade da sua cátedra a partir de 2019?
Eu gostaria muito de continuar meu envolvimento com o Brasil, de uma forma ou de outra. Estou bem otimista quanto a isso. Acho bastante estimulante e gratificante trabalhar no Brasil e com brasileiros.
DAN HENNINGSON
Royal Institute of Technology (KTH)
Em outubro próximo, o senhor virá ao Brasil para assumir uma cadeira no ITA. Quais sãos as suas expectativas em relação às atividades de ensino, pesquisa e cooperação que pretende desenvolver?
Espero desenvolver um programa de pesquisas com alguns professores do ITA, nas quais temos estudantes de ambos os países trabalhando em conjunto. Prevejo que tanto pesquisadores sêniores quanto estudantes de pós-graduação se encontrem várias vezes ao ano, tanto na Suécia quanto no Brasil, e que possamos explorar os pontos positivos do grupo de pesquisa para solicitar financiamento visando ampliar ainda mais as atividades de pesquisa e seus resultados. Também tenho a expectativa de que essa colaboração possa trazer para perto outros grupos de pesquisa no Brasil, que não tenham trabalhado de forma tão próxima anteriormente, particularmente experimentos no campus da USP São Carlos com a pesquisa teórica no ITA. Em termos de ensino e outras atividades, acho que participarei de alguns cursos de pós-graduação ministrados no ITA e também pretendo auxiliar na preparação de conferências e workshops no Brasil em minha área de pesquisa.
No seu plano de trabalho, está previsto o desenvolvimento de atividades relacionadas a um projeto de pesquisa. Do que se trata esse projeto, qual sua importância e principais desafios para a aeronáutica?
A base inicial da colaboração é um projeto dentro do Programa Nacional de Pesquisa Aeroespacial Sueco (NFFP), chamado PreLaFloDes, que trabalha com Controle de Fluxo Laminar e desenvolve capacidade para análise de alta fidelidade para o fluxo laminar de asas. Além disso, o uso de superfícies inteligentes e de atuadores de plasma será avaliado, visando determinar como obter benefícios adicionais através do controle ativo de fluxo.
Como o senhor pretende contribuir para uma agenda de pesquisa de longo prazo entre os dois países? O senhor tem intenção de envolver pesquisadores de outras instituições brasileiras? E pesquisadores da indústria?
O Controle de Fluxo Laminar é o foco do meu grupo de pesquisa há cerca de 20 anos; temos trabalhado conjuntamente com pesquisadores europeus, acadêmicos e industriais, para desenvolver ferramentas de análise e projetos de asas laminares. Essa área não foi abordada anteriormente no Brasil da mesma forma. Assim, acho que nossa experiência será de grande importância para reforçar as pesquisas nessa área no Brasil, não apenas no ITA, mas também em outras instituições, incluindo a indústria. Parceiros da indústria são importantes e espero ter tanto a Saab quanto a Embraer envolvidas nesse grupo de pesquisa.
Qual a sua experiência em cooperação internacional?
Tenho ampla experiência em cooperação internacional e ela é parte integrante do meu grupo de pesquisa. Por exemplo, há cinco anos recebi o prêmio Alexander von Humboldt e passei um período na Alemanha colaborando com pesquisadores-chave em Aerodinâmica e Mecânica dos Fluídos. Nos últimos vinte anos, também participei de muitos projetos de pesquisa financiados pela União Europeia, que sempre envolvem grandes esforços de colaboração.
TOMAS GRÖNSTEDT
Chalmers University of Technology
O senhor será o terceiro professor sueco a assumir uma cadeira no ITA dentro do programa. Quais são as suas expectativas? Este será o seu primeiro trabalho em cooperação com o Brasil?
De uma perspectiva da Chalmers University of Technology, espero que esta colaboração possa auxiliar a torná-la melhor conhecida no Brasil, e que possa servir de catalisador para um compromisso de longo prazo e mais amplo com o ITA em particular, mas também com outras universidades brasileiras. Adicionalmente, espero que esta parceria possa contribuir para reforçar ainda mais a rede de pesquisa do ITA dentro da Europa. O grupo que lidero tem ampla experiência de trabalho com várias formas em projetos na União Europeia. A rede que estabelecemos se abre de vários modos para intensificar os meios para que a Chalmers e o ITA possam trabalhar juntos.
Da perspectiva de meus próprios interesses de pesquisa, valorizo o fato de o ITA ter uma abordagem bastante aplicada, isto é, contribui com inovações em engenharia que têm potencial para entrar no mercado e gerar novos empregos. É uma tarefa que considero muito importante e com a qual estou engajado.
Além de um compromisso mais intenso com a universidade, a Chalmers também busca desenvolver relações educacionais com o setor da aeronáutica no Brasil em geral. No verão passado, tivemos um aluno da Chalmers incluído no programa de mestrado da Embraer. Foi a primeira vez que um aluno europeu participou deste programa. Nós apreciamos o fato de a Embraer ter uma abordagem muito madura, com visão de futuro, quanto ao ensino de engenharia. Na Chalmers, também vemos que podemos proporcionar oportunidades para os alunos, e tornar tanto o ITA quanto a Chalmers mais atraentes para o intercâmbio.
Na verdade, minha colaboração com o ITA começou antes de se consolidar a parceria com o Gripen. Um ex-colega da Chalmers e eu desenvolvemos um curso conjunto de projeto conceitual de motores aéreos já em 2011. Os grupos de pesquisa em turbo-maquinário correspondentes já têm uma relação de longa duração desenvolvida através da Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos.
Na Chalmers University of Technology, o senhor desenvolve pesquisas que visam inovações em motores de avião e eficiência em turbina a gás. Poderia nos dar uma breve explicação dessas inovações, suas aplicações e benefícios?
Recentemente meu grupo realizou análise e trabalho experimental com um conceito de intercooler que projetamos para uma ampla variedade de aplicações em motores aéreos que devem passar a ser usados por volta de 2025. Desenvolvemos o conceito desde o início na Chalmers, apesar de, a princípio, termos recebido substanciais subsídios industriais da GKN Aerospace e da Rolls-Royce. Estimamos uma potencial melhoria na queima de combustível, em torno de 5% para missões de maior distância. Como utilizar o intercooler dentro de uma missão e incorporar suas vantagens na otimização de futuros motores são os resultados principais esperados.
Com o ITA, também já iniciamos uma cooperação para o propulsor Boxprop. Este conceito tem origem em uma patente que requeremos para um ex-aluno de doutorado industrial do meu grupo. O conceito promete oferecer, às aeronaves com propulsor de alta velocidade, velocidades similares aos do motor comercial turbofan, reduzindo substancialmente a queima de combustível bem como as emissões de CO2 associadas.
O aspecto competitivo desse conceito é o potencial para diminuir as emissões de CO2 com um nível reduzido de emissão de ruído quando comparado aos propulsores concorrentes. Nos próximos anos, esperamos que a colaboração com o ITA leve a uma melhor compreensão de como as escolhas de projeto de geometria nacelle se inter-relacionam com o projeto aerodinâmico de propulsor Boxprop.
Como o senhor acha que este programa pode beneficiar o grupo de pesquisa sob sua coordenação na Chalmers University of Technology?
Com certeza pode tornar as carreiras de pesquisa dentro de nosso grupo mais atraentes, permitindo que se amplie ainda mais nossa rede internacional. Também temos planos bastante ambiciosos para colaborar com o ITA em ferramentas de projeto na área de otimização multidisciplinar e de compressores aerodinâmicos. |